segunda-feira, 12 de maio de 2008

Hipertrofia X Alongamento – Mitos e Verdades

De acordo com a literatura científica, deve ser evidenciado que muitos trabalhos sobre esses temas foram realizados deixando evidente as suas respostas fisiológicas sob o aspecto científico.

Ao relatar a hipertrofia muscular, deve ser evidenciado que o nível energético é de vital importância para que haja alterações nas atividades endócrino-metabólica da fibra muscular. Com isso, uma queda na quantidade de energia promove um aumento da atividade de AMPK (adenosina monofosfato quinase) induzindo a uma alteração na permeabilidade de IGF-1 sobre a membrana das células musculares e com isso elevando a atividade das células satélites. Este fato faz com haja maior transcrição no RNAm e RNAt, reduzindo a atividade da miostatina, aumentando a síntese de proteína e então acontecendo a Hipertrofia muscular¹.

Pode ser observado que o treinamento concêntrico/excêntrico tem uma grande capacidade de provocar uma hipertrofia muscular transversal. Já o treinamento com exercícios de alongamento tem uma grande influência na hipertrofia longitudinal¹. Contudo, algumas explicações devem ser dadas a respeito deste último fato, pois muitas confusões continuam presentes sobre este tema.

Todos os fenômenos hipertróficos a longo prazo em virtude do alongamento se referem a modelos in vitro e em células animais. Todavia, podemos observar que esses fenômenos quando relatados em humanos estão relacionados aos cardiomiócitos, que são células semelhantes, mas jamais serão iguais, aos miócitos do músculo esquelético. Essa hipertrofia induzida pelo alongamento dos cardiomiócitos estão diretamente associados com a Lei de Frank-Starling (Força de contração é diretamente proporcional a força de distensão da parede dos ventrículos)².

Outro ponto que merece atenção é que a maior perfusão sanguínea nas células musculares induzidas pelo alongamento, não é confirmada pela literatura. Porém, Miyake et al. (2003)³ relataram que o alongamento é capaz de reduzir tanto o fluxo sanguíneo quanto o fluxo de oxigênio no músculo alongado. Eles utilizaram neste estudo um aparelho chamado NIRS (Near Infrared Spectroscopy). Este aparelho tem a capacidade de captar o fluxo sanguíneo e conteúdo de oxigênio na massa muscular analisada, através de raios infra-vermelhos4. Isto também foi demonstrado na revisão de Pereira et al. (2007) em exercícios resistidos5.

Deste modo, pode ser observado que a ciência mostra que tanto o alongamento sub-máximo ou máximo não é capaz de provocar hipertrofia em indivíduos ativos e saudáveis, pois a oclusão provocada por estes exercícios reduz o conteúdo de sangue e de oxigênio. Com isso, há uma importante diminuição de toda a atividade metabólica muscular. Por isso, observa-se que a atividade de síntese de proteína é reduzida nos indivíduos que são submetidos ao alongamento.

Por outro lado, os exercícios de alongamento, principalmente sub-máximo, para os indivíduos com distrofias musculares ou sedentarismo crônico, independente da faixa etária, mostram-se importantes para ganhos de potência, força e hipertrofia aguda. Kokkonen et al. (2007)6, demonstraram que os exercícios de alongamento foram fundamentais para melhora da performance da potência e da força de indivíduos jovens. Contudo, os autores concluem que estes exercícios tem uma grande importância na iniciação à atividade física, mas a prática isolada a longo prazo não apresenta melhoras significativas. Essas respostas são semelhantes em idosos sedentários.

Em conclusão, os exercícios de alongamento provocam grande modificações na fase aguda do treinamento, podendo trazer grandes benefícios para os iniciantes e idosos ao inciarem a prática de atividades físicas. Porém, muitos cuidados devem ser tomados com os exercícios de alongamento a longo prazo, pois elas poderiam levar a uma série de modificações estruturais na célula muscular, principalmente, modificações longitudinais.

Um outro aspecto que deve ser levado em conta é que devemos dar crédito aos periódicos de nível internacional, para evitarmos referenciar trabalhos que mostrem resultados pouco fidedignos.


Bibliografia:

1- Hornberger T A & Esser K A. Mechanotransduction and the regulation of protein synthesis in skeletal muscle. Proceedings of the Nutrition Society. 2004; 63: 331–335.

2- Sil P, Gupta S, Young D, Sen S. Regulation of myotrophin gene by pressure overload and stretch. Mol Cell Biochem. 2004 Jul;262(1-2):79-89.

3- Miyake M, Harada Y, Senda M, Oda K, Inoue H. Oxygen dynamics at paraspinal muscles during exertion using near-infrared spectroscopy in patients with degenerative lumbar scoliosis. J Orthop Sci. 2003;8(2):187-91.

4- Wariar R, Gaffke JN, Haller RG, Bertocci LA. A modular NIRS system for clinical measurement of impaired skeletal muscle oxygenation. J Appl Physiol. 2000 Jan;88(1):315-25.

5- Pereira MI, Gomes PS, Bhambhani YN. A brief review of the use of near infrared spectroscopy with particular interest in resistance exercise. Sports Med. 2007;37(7):615-24.

6- Kokkonen JA, Nelson G, Eldredge C, Winchester JB. Chronic Static Stretching Improves Exercise Performance. Med. Sci. Sports Exerc. 2007;39 (10):1825–1831.


OBS.: O COBRASE se refere especificamente a toda base da dados da revista Fitness & Performance.

8 comentários:

Anônimo disse...

Valeu Anderson. Tá de parabens pela elaboração do blog. Instrumento que vai servir e muito para informação para todos os profissionais de educação física. Sucesso e grande abraço.

Anônimo disse...

Oi Anderson,
Parabéns pelo blog.
Não sei qual será o objetivo dos próximos posts, mas eu, como leiga, gostaria de maiores informações sobre este mesmo assunto (hipertrofia x alongamento).
Como eu operei uma hernia de disco recentemente e fiquei muito tempo sem me exercitar, só me contraindo por causa das dores, gostaria de maiores informações sobre o processo de recuperação por meio da fisioterapia... mas peço que se use uma linguagem acessível a quem não entende muito dessa área, ok?
Abraços
Cristiane Rose Duarte

Anderson Luiz disse...

Olá Cristiane,
muito obrigado pelo comentário! Mas a linguagem foi devido as dúvidas técnicas de um grupo! Fique tranquila que o próximo post será sobre hérnia de disco e exercício!

Grande abraço
Anderson Luiz

Anônimo disse...

Parabéns pela iniciativa Anderson, tanto conhecimento adiquirido não poderia mesmo ficar assim retido, né! Tenho certeza que este blog será de muita utilidade e ampliará o conhecimento de todos nós!

Bjs Gabi

Anônimo disse...

Fala Anderson,
Muito interessante esse artigo sobre reposição hidrosalina durante o exercício.
E sobre a água de coco, vale lembrar que ela também é muito rica em fibras,o que ingerida em excesso retarda a absorção de nutrientes para o organismo,inclusive o carboidrato,que é indispensável para gerar energia durante o exercicío.
Um abraço.

BEM ESTAR BOA FORMA disse...

Gostei muito da matéria. Bem fundamentada e com respaudo científico. Estou em fase de conclusão da pós em fisiologia e também estou construindo um blog, faça uma visita se quiser: bemestarboaforma.blospot.com
Até.
Gabriela Verly

FELIPE disse...

GOSTARIA DE SABER SE O ALONGAMENTO PÓS TREINO E RECOMENDADO PARA HIPERTROFIA? E O CASO DO ALONGAMENTO EVITAR LESÕES COMO FICA? É RECOMENDÁVEL FAZER UM AQUECIMENTO COM CARGA MINIMA ANTES DE COMEÇAR UM TRINO DE HIPERTROFIA?

Anderson Luiz disse...

Caro Felipe,

devemos estar a tentos a posição atual da literatura que nos indica que até o presente momento não está claro se existe vantagens na aplicação do alongamento após exercício de força. Porém, especula-se de acordo com os conceitos fisiológicos que aplicação de alongamento após os exercícios de força induziria as articulações a alcançarem amplitudes que não seriam possíveis em condições basais. Isto, devido as respostas inibitórias provocadas pelo alongamento.

Quanto ao aquecimento com cargas mínimas para exercícios resistidos seria o ideal para preparação músculoarticular.

Grande abraço e continue visitando o nosso BLOG.